Avançar para o conteúdo principal

Yahyah Jammeh é uma Lição de Política Africana



Iaiá Djemé: Uma lição de política africana

Iaiá Djemé esteve na semana passada um pequeno passo de se tornar protagonista de algo que valeria como uma escalada na desfiguração por que a democracia em África tem passado. É verdade que também há ricos exemplos de experiências democráticas, mas ao todo são uma excepção,
Presidente da Gâmbia nos últimos anos, Djemé recusava-se obstinadamente a deixar o cargo que perdera em consequência de uma inesperada derrota eleitoral. Comportou-se como deve ser quando, num primeiro momento, reconheceu a derrota, mas estragou tudo depois de ter passado a contestar a limpeza da vitória eleitoral do seu adversário e a usar o truque para se manter no poder.
Quando finalmente reconsiderou, cedendo o lugar ao vencedor das eleições, não deve ter sido tanto porque coisas elementares, como a decência e prudência, o aconselharam a fazê-lo, mas sob pressão. Estava a esgotar-se o prazo que lhe fora dado para o fazer, sob pena de assistir, provavelmente indefeso, à entrada no seu território de um contingente militar da CEDEAO, constituído por tropas senegalesas e nigerianas que não vinham seguramente em missão de reverência à sua pessoa.
A escalada que a “birra” de Jammeh constituiria se tivesse sido bem sucedida, sê-lo-ia porque iria juntar-se a outros enviesamentos ou atentados ao espírito da democracia, já passadas à condição de correntes em África. Casos da fraude eleitoral e, nos últimos anos, das cirúrgicas alterações constitucionais promovidas por chefes de Estado apostados em manter-se no poder depois de concluídos os mandatos permitidos.
O processo de democratização da África, iniciado no rescaldo das profundas mudanças que a ordem internacional conheceu no rescaldo da queda do Muro de Berlim e da implosão do mundo soviético, foram uma espécie de rolo compressor para os regimes de partido único e/ou sistemas de governo autoritários que até então marcavam a realidade política da África.
Nem um dos partidos únicos que então se apresentaram a eleições livres se manteve no poder, havendo alguns que foram mesmo humilhados. Foi ao que se expuseram o PAICV e o MLSTP, para confinar o abalo que a África então conheceu ao que se passou em países de língua portuguesa. No fundo, o eleitorado africano, como aconteceria com qualquer outro eleitorado do planeta, aproveitou a liberdade de que finalmente tinha passado a dispôr para se livrar de partidos que estava cansado de ver no poder. E tantas vezes sentindo amargos efeitos disso na pele.
A fraude eleitoral foi a defesa ante aquela “ameaça eleitoral”, como provavelmente terão olhado para o que se estava a passar, partidos que só mais tarde se viriam a apresentar a sufrágio, em razão de processos políticos internos cuja conclusão ainda levou o seu tempo. Ainda hoje se conservam no poder.
Devia pesar nas consciências das cumplicidades internacionais sem as quais a fraude não teria resultado, a dor de alma que dá olhar para abcessos como a corrupção que mina esses países, em todos os casos gerando injustiças, sofrimento e enormes manchas de pobreza. Foi no que deram partidos só ilusoriamente convertidos à democracia, que também nunca abjuraram (só na aparência…) concepções autocráticas de poder facilitadoras de perversidades como má governação, corrupção, etc. Com a vantagem de terem podido passar uma legitimidade política e eleitoral que nas suas vidas de partidos únicos não tinham.
O país de Iaiá Djemé é a Gâmbia, um minúsculo Estado que só não está completamente encravado no Senegal porque tem uma estreita saída para o mar na foz do rio que lhe dá o nome. Dá que pensar se a exiguidade territorial do país e a sua escassa importância regional não constituíram a vulnerabilidade capital que tramou Djemé.
Era bom que a lição de Djemé não se tivesse devido apenas à insignificância que é a Gâmbia. É que os países da fraude e dos novíssimos expedientes de conservação do poder, que seguem o seu curso, são todos países de categoria muito superior, em território, recursos e influências. Aí, a inconformação da comunidade internacional, quando se manifesta, ou os protestos dos descontentes internos, de nada têm valido.
África monitor com OS PATRIÓTAS . 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

LANÇADO NOVO BILHETE DE IDENTIDADE DA CEDEAO

A empresa SEMLEX, apresentou esta terça-feira (13 de Março) o novo processo do Bilhete de Identidade Biométrico as autoridadesde Guiné-Bissau que pode ser usado também como passaporte no espaço da CEDEAO. Apresentação teve lugar no salão nobre do ministério da justiça na presença do primeiro-ministro indigitado pelo presidente da República, ministro da justiça e da defesa ambos do governo demitido, representante da União Africana e da CEDEAO. Momento antes da apresentação, o titular da pasta da justiça Rui Sanha, disse que o governo já tinha aprovado a introdução do novo bilhete de identidade da CEDEAO num dos conselhos dos ministros realizado em Setembro do ano passado. «Faz sentido proceder a apresentação pública do documento que será brevemente uma realidade no nosso país e que vinha sendo objecto de vários encontros e empenho preparativos com a empresa responsável pela produção do Bilhete de Identidade no nosso país desde 2006. Com efeito em Set...

IX CONGRESSO DO PAIGC

Os delegados ao IX (nono) Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e cabo verde (PAIGC) aprovaram o relatório do Comité Central do partido libertador, documento este que reflete os trabalhos realizados durante os quatro anos da direção cessante liderado por Domingos Simões Pereira. De acordo com o porta-voz do PAIGC, João Bernardo Vieira, os delegados aprovaram ainda as alterações dos Estatutos do partido, que segundo Vieira, visam reforçar as raízes do partido com base na disciplina. “A alteração dos Estatutos foi aprovada por unanimidade com um voto contra”, nota João Bernardo Vieira. O jornal O Democrata soube que o único voto contra é do Octávio Lopes, o opositor solitário da direção cessante dos libertadores. O artigo sexto do estatuto dos libertadores tido como foco dos conflitos internos, foi totalmente suprimido, revelou João Bernardo Vieira. O referido artigo zelava pela existência de sensibilidades dentro do PAIGC. A novidade do I...